Nobel da Paz sai para iraniana Narges Mohammadi, ícone da luta pela liberdade das mulheres
O Prêmio Nobel da Paz foi atribuído, nesta sexta-feira (6), à defensora iraniana dos direitos das mulheres Narges Mohammadi, atualmente presa em Teerã.
A ativista e jornalista de 51 anos foi premiada "por sua luta contra a opressão das mulheres no Irã e por sua luta para promover os direitos humanos e a liberdade para todos", disse a presidente do Comitê Norueguês do Nobel, Berit Reiss-Andersen, em Oslo.
"Sua corajosa luta teve um tremendo custo pessoal. No total, o regime prendeu-a 13 vezes, condenou-a em cinco ocasiões e sentenciou-a a um total de 31 anos de prisão e 154 chicotadas", acrescentou Reiss-Andersen.
Após o anúncio, a ONU e o comitê Nobel pediram ao Irã que liberte Mohammadi, mantida na prisão de Evin, em Teerã, onde, segundo a ONG Repórteres Sem Fronteiras, ela é alvo de "uma perseguição judicial e policial para silenciá-la".
É um "momento histórico para a luta pela liberdade no Irã", declarou a família da ativista, em uma mensagem por escrito, ao saber da notícia.
"Dedicamos este prêmio a todos os iranianos e, em especial, às mulheres e meninas iranianas que inspiraram o mundo todo com sua coragem e sua luta pela liberdade e pela igualdade", acrescenta a família.
"Infelizmente, Narges não pode estar conosco para compartilhar este momento extraordinário", completa o texto escrito por seu marido, Taghi Rahmani, em nome da família.
"Como Narges sempre diz: a vitória não é fácil, mas é certa", finaliza.
O prêmio de Mohammadi chega em meio a um amplo movimento de protesto na República Islâmica, após a morte sob custódia policial, há um ano, da jovem curdo-iraniana Mahsa Amini, detida pela acusação de violar o rigoroso código de vestimenta feminino.
Narges Mohammadi, de 51 anos, dedicou sua vida à defesa dos direitos humanos em seu país, opondo-se à obrigatoriedade do véu, ou à pena de morte, e sendo repetidamente detida e encarcerada por isso.
Mohammadi também é vice-presidente do Centro de Defensores dos Direitos Humanos, fundado pela iraniana também vencedora do Prêmio Nobel da Paz Shirin Ebadi, que luta, entre outras causas, pela abolição da pena de morte.
- 'Coragem e determinação' -
A ONU celebrou um prêmio que este ano homenageia "a coragem e a determinação das mulheres iranianas".
"O caso de Narges Mohammadi é emblemático dos enormes riscos que as mulheres assumem para defender os direitos de todos os iranianos. Pediremos sua libertação e a de todos os defensores dos direitos humanos encarcerados no Irã", reagiu o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, em um e-mail enviado à AFP.
Em 16 de setembro, Mohammadi e outras três prisioneiras queimaram seus véus no pátio da prisão, pelo aniversário da morte de Mahsa Amini, segundo publicação em sua conta no Instagram, administrada por sua família.
Dois meses antes, Mohammadi publicou um texto no Instagram contra o véu obrigatório: "Neste regime autoritário, a voz das mulheres é proibida, o cabelo das mulheres é proibido (...) Não aceitarei o hijab obrigatório".
No ano passado, com a guerra na Ucrânia como pano de fundo, o prêmio foi entregue a um trio muito simbólico de defensores dos direitos humanos: a ONG russa Memorial - oficialmente dissolvida na Rússia -, o Centro ucraniano para as Liberdades Civis (CCL) e o militante bielorrusso preso Ales Bialiatski.
O prêmio inclui uma medalha de ouro, um diploma e uma quantia de 11 milhões de coroas suecas (cerca de um milhão de dólares).
H. Müller--BTZ