Liberdade de imprensa é atacada em todo o mundo, denuncia chefe da ONU
Organizações internacionais e veículos de comunicação expressaram, nesta terça-feira (2), preocupação com as ameaças e os desafios que enfrentam aqueles que exercem o jornalismo, na véspera do 30º aniversário do Dia Internacional da Liberdade de Imprensa.
Neste contexto, a Unesco concedeu nesta noite o Prêmio Mundial da Liberdade de Imprensa 2023 a três jornalistas iranianas presas: Elaheh Mohammadi e Niloofar Hamedi, que ajudaram a divulgar a morte de Mahsa Amini sob custódia em setembro, e a ativista dos direitos humanos Narges Mohammadi.
"A liberdade de imprensa representa o elemento fundamental de todos os direitos humanos", mas "é atacada em todos os lugares do mundo", disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, em uma mensagem por vídeo em uma conferência organizada pela Unesco na sede das Nações Unidas, em Nova York.
"Os jornalistas e os empregados dos meios de comunicação são alvo de ataques diretos no desempenho fundamental de seu trabalho e fora da internet. São assediados, intimidados, detidos e presos sistematicamente", alertou.
Ainda que não tenha citado nomes ou países, outros participantes lembraram casos individuais, como o do jornalista americano do The Wall Street Journal, Evan Gershkovich, detido na Rússia por acusações de espionagem que ele nega.
"Venho de um país, o Irã, onde ser jornalista é um delito. Venho de um país onde ser jornalista, cidadão jornalista pode representar prisão, que te matem ou torturem", disse a jornalista e defensora dos direitos das mulheres Masih Alinejad, que vive exilada nos EUA.
Segundo a organização de defesa da liberdade de imprensa Repórteres sem Fronteiras, 55 jornalistas e quatro colaboradores foram assassinados em 2022 no exercício de suas funções.
Trata-se de uma situação "inaceitável", denunciou a diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, lembrando que muitos jornalistas foram assassinados "em suas casas, diante de suas famílias".
E mesmo que depois de 30 anos tenha havido avanços a favor da liberdade de imprensa, particularmente na legislação que garanta o acesso à informação, "necessitamos também de muita lucidez, nada está garantido, muito pelo contrário", disse.
- 'Avalanche' de desinformação -
Para além dos ataques a jornalistas, "a avalanche da era digital modifica completamente o cenário da informação", advertiu Azoulay. E acrescentou: "Necessitamos mais do que nunca" dos jornalistas.
"A verdade está ameaçada pela desinformação e pelos discursos de ódio, que tentam deturpar os limites entre realidade e ficção, entre ciência e conspirações", disse, por sua vez, o secretário-geral da ONU.
Guterres também alertou para o "aumento da concentração da indústria dos meios de comunicação nas mãos de alguns poucos e da falência de muitos meios independentes".
"A tecnologia, que deu aos jornalistas a possibilidade de chegar ao povo em qualquer lugar, minou o modelo econômico da informação" disse Arthur Gregg Sulzberger, diretor do The New York Times.
"Quando a imprensa livre se enfraquece, é seguida quase sempre da erosão da democracia. E sem surpresas, esse período de fragilidade da imprensa coincide com a desestabilização das democracias e o estímulo às autocracias", recordou.
Por isso, é "urgente e imperativo que os Estados reiterem e renovem seu compromisso com a proteção e a promoção de meios independentes, livres e plurais, pilares fundamentais da democracia", avaliaram em declaração conjunta os relatores sobre a liberdade de expressão da ONU, da OSCE, da Organização de Estados Americanos e da Comissão Africana de Direitos Humanos e dos Povos.
"Infelizmente, a censura se tornou a posição de muitos governos para controlar o que a sociedade sabe e submetê-la à sua vontade", disse Agnès Callamard, secretária-geral da Anistia Internacional.
A. Walsh--BTZ