Santiago Peña é eleito presidente do Paraguai, confirmando hegemonia do Partido Colorado
O economista Santiago Peña, do governista Partido Colorado, foi eleito presidente do Paraguai neste domingo (30), superando nas urnas o líder liberal Efraín Alegre, em um processo eleitoral marcado por denúncias de corrupção contra importantes dirigentes do partido da situação.
Peña, um conservador de 44 anos, recebeu mais de 42% dos votos, ficando à frente de Alegre (27%), anunciou a autoridade eleitoral paraguaia, após a apuração de mais de 90% das urnas.
O ex-deputado de direita e antissemita Paraguayo Cubas ficou em terceiro com 22% dos votos. A participação do eleitorado foi de 63%.
Peña substituirá o atual mandatário Mario Abdo Benítez a partir de 15 de agosto por um mandato de cinco anos.
Em suas primeiras palavras como presidente eleito, Peña agradeceu o apoio do ex-presidente Horacio Cartes (2013-2018), seu padrinho político sob sanções dos Estados Unidos, que o classificam como "significativamente corrupto".
"Muito obrigado meu querido presidente da Associação Nacional Republicana (ANR, Partido Colorado), Horacio Cartes. Admiro a imensidão de sua obstinada dedicação ao partido", discursou Peña ao lado do ex-presidente, diante dos aplausos de apoiadores na sede de campanha.
Pouco após o anúncio da justiça eleitoral, Alegre reconheceu a derrota.
"O esforço não foi suficiente. O povo em sua maioria votou pela mudança, mas pela divisão não foi possível. A cidadania nos ensina que unidos somos maioria", disse à imprensa.
- Hegemonia colorada -
O Partido Colorado governou o Paraguai durante a maior parte das últimas sete décadas, sob a ditadura e sob a democracia, com uma breve interrupção durante o governo do esquerdista Fernando Lugo (2008-2012), que sofreu um impeachment um ano antes do fim de seu mandato.
Os colorados, "na adversidade, sabem superar os obstáculos para se manter no poder", disse à AFP Roberto Codas, analista político e econômico da consultoria Desarrollo Empresarial.
"Neste caso, 'Payo' Cubas o ajudou, pois ficou como terceira força. Tomou votos de ambos os grupos, mas os mais afetados foram os opositores" do governo, disse.
- Acusações de corrupção -
A campanha eleitoral ocorreu simultaneamente com as sanções dos Estados Unidos contra alguns dos mais importantes líderes colorados, como Cartes e o vice-presidente Hugo Velázquez.
O Paraguai, no centro da América do Sul, é considerado um ponto de trânsito de drogas para Brasil e Argentina antes de sua saída para Europa e Ásia.
Em 2022, o promotor Marcelo Pecci e o prefeito José Carlos Acevedo foram assassinados, em crimes atribuídos ao narcotráfico.
Embora o Paraguai tenha uma das economias que mais crescem na América Latina – com previsão de +4,5% para o PIB em 2023, segundo o Fundo Monetário Internacional – a pobreza atinge 24,7% da população, que sofre com enormes desigualdades.
Peña propôs a criação de 500 mil empregos. Alegre defende a incorporação do setor informal, que abrange 40% dos trabalhadores.
Para o analista econômico Rubén Ramírez, o governo de Peña será "confortável" para os investidores, que valorizam a estabilidade econômica do Paraguai.
"Ele é jovem, foi membro do Conselho do Banco Central, foi Ministro da Fazenda, ex-funcionário do Fundo Monetário Internacional e conhece os códigos de desenvolvimento de um país que enfrenta o mundo exterior em questões econômicas", analisou.
- Entre Taiwan e Jerusalém -
Questões controversas de política externa também foram abordadas na campanha.
Peña defendeu os vínculos com Taiwan, em resposta a declarações opostas de Alegre, que havia dito que, em caso de vitória, analisaria a continuidade das relações diplomáticas do Paraguai com a ilha, já que "significam a perda de um dos maiores mercados, a China".
"O Estado de Israel reconhece Jerusalém como sua capital. A sede do Congresso está em Jerusalém, o presidente está em Jerusalém. Então, quem somos nós para questionar onde eles estabelecem sua própria capital?", disse Peña à AFP.
A. Williams--BTZ