Djokovic se pronuncia sobre Kosovo e volta a gerar polêmica
"Kosovo é o coração da Sérvia. Não à violência", escreveu Novak Djokovic em uma câmera de televisão após vencer seu primeiro jogo no torneio de Roland Garros, incrementando a lista de polêmicas que já protagonizou ao longo da carreira.
Depois de derrotar o americano de origem sérvia Aleksandar Kovacevic, 'Nole' deixou a mensagem sobre a situação no norte do Kosovo, palco há vários dias de confrontos entre membros da força internacional para Kosovo (KFOR), liderada pela Otan, e manifestantes sérvios que querem a saída de quatro prefeitos albaneses da região, eleitos em abril.
- "Não sou um político" -
Em entrevista coletiva, o tenista deu explicações aos jornalistas sérvios: "Como uma figura pública, mas também como filho de um homem que nasceu no Kosovo, sinto uma responsabilidade adicional de tentar expressar meu apoio ao nosso povo e à Sérvia como um todo. É o mínimo que posso fazer. Não sou um político e não tenho a intenção de entrar em um debate".
Não é a primeira vez que Djokovic se pronuncia sobre Kosovo. Em janeiro de 2008, quando conquistou pela primeira vez o Aberto da Austrália, ele declarou: "Kosovo é Sérvia".
A Sérvia, apoiada por Rússia e China, nunca reconheceu a independência do Kosovo, proclamada em 2008 por sua antiga província. Desde então, a situação política é de tensão entre Belgrado e Pristina.
A mensagem que Djokovic escreveu na câmera poderia ser uma violação do código de ética de Roland Garros, que proíbe o posicionamento político ou religioso. "Não sei se vão me punir", se limitou a dizer em entrevista coletiva.
Nesta terça-feira, a Federação Francesa de Tênis (FFT) publicou um comunicado sem abordar a questão de uma possível punição.
"Os debates sobre a atualidade internacional às vezes entram nos torneios, é compreensível", se limitou a afirmar a FFT.
"A frase de Djokovic não é uma surpresa", diz à AFP Lukas Macek, pesquisador do instituto de ciências políticas Jacques Delors, com sede em Paris.
"Novak é alguém que mantém vínculos com alguns círculos nacionalistas sérvios e suas posições nesse sentido são frequentes. Mas a questão do Kosovo, inclusive para os sérvios muito moderados, ainda é uma ferida, um assunto delicado e doloroso", explicou Macek.
A questão também é sensível para os kosovares: um mural com o rosto de Djokovic foi vandalizado na noite de segunda para terça-feira em um edifício de Orahovac, pequena cidade no sudoeste do Kosovo, onde centenas de sérvios convivem com albaneses, que são maioria.
- "Um lado provocador" -
A posição de 'Nole' de não se vacinar contra a covid-19 foi sua polêmica mais famosa. O tenista ficou vários dias retido na Austrália em janeiro de 2022, sendo finalmente deportado sem poder disputar o primeiro Grand Slam do ano por não estar imunizado.
Djokovic mantém sua posição e, por exemplo, este ano não pôde participar do Masters 1000 de Indian Wells, nos Estados Unidos.
"Ele tem opiniões que não estão no 'mainstream' ocidental. Sem dúvida, ele tem um lado provocador", acrescentou Macek.
O sérvio já tinha escandalizado o mundo em plena pandemia ao organizar um torneio por vários países que faziam parte da antiga Iugoslávia, provocando uma série de contágios quando o mundo vivia confinado.
Outra de suas controvérsias foi a eliminação nas oitavas de final do US Open de 2020, depois de ter acertado uma bolada, de maneira involuntária, em uma juíza de linha.
Suas tentativas de liderar uma reorganização do circuito masculino também geraram desconfianças.
Acima de tudo, a personalidade de Djokovic, um enigma para muitos, parece "romper os laços de uma popularidade à altura de seu talento", disse há alguns anos um diretor de torneio.
P. O'Kelly--BTZ