Argentina eleva taxa de juros e prepara plano contra a inflação
O Banco Central da Argentina elevou a taxa de juros de 91% para 97% nesta segunda-feira (15), a primeira de uma bateria de medidas que serão anunciadas pelo governo para combater a inflação de mais de 108% em 12 meses, em um contexto social e econômico tenso antes das eleições presidenciais de outubro.
O objetivo da autoridade monetária é "inclinar-se para retornos reais positivos sobre os investimentos em moeda local (ndlr rumo à rentabilidade) e atuar imediatamente para evitar que a volatilidade financeira aja como um motor das expectativas de inflação", afirmou a autoridade monetária em comunicado oficial.
A medida aplicada pelo Banco Central implica uma alta de 600 pontos na taxa de juros e é o primeiro passo de um programa que inclui incentivos ao consumo e à importação de alimentos para conter o aumento dos preços ao consumidor, que chegaram a 8,4% mensais em abril, segundo dados da semana passada.
O ministro da Economia, Sergio Massa, um potencial candidato a presidente pelo peronismo no poder para as primárias de 13 de agosto e gerais de 22 de outubro, ainda não detalhou em que momento serão anunciadas as medidas, após as reportagens publicadas pela imprensa local.
Meios argentinos mencionam, entre outras disposições, uma abertura às importações em setores sensíveis como alimentos frescos e têxteis, maior controle estatal sobre a alta de preços e um reforço dos subsídios aos setores mais vulneráveis do país onde a pobreza alcançou 39,2% da população no final de 2022.
- Desencorajar a dolarização -
O governo do presidente Alberto Fernández e o Banco Central esperam que as taxas sejam o suficiente atrativas para desencorajar a forte demanda por dólares, em um país onde a cédula verde se tornou um refúgio contra a inflação galopante.
Restrições para a compra de divisas na Argentina impulsionam sua aquisição no mercado ilegal, onde o peso é negociado a quase o dobro da cotação oficial de 238,50 pesos por dólar (cerca de 47 pesos por real na cotação atual).
A constante desvalorização do peso está relacionada às repetidas remarcações de preços, já que a moeda americana é uma âncora de referência e um termômetro das expectativas econômicas na Argentina.
O país sul-americano atravessa além de tudo um ano difícil para sua economia, com uma seca que afetou duramente o setor agrícola e pecuário, a maior fonte de divisas do país.
Desde início do ano, a Argentina já perdeu mais de 5,5 bilhões de dólares ( o equivalente a cerca de 27 bilhões de reais na cotação atual) de suas reservas internacionais, que se encontram em 33,58 bilhões de dólares (cerca de 164 bilhões de reais na cotação atual), informou el Banco Central. As reservas líquidas estariam abaixo desse número, segundo economistas.
Na sexta-feira, o instituto estatístico Indec informou que a inflação em abril alcançou 8,4%, o maior dado mensal em três décadas, com aumento de preços maior do que nos meses anteriores (7,7% em março, 6,6% em fevereiro e 6,0% em janeiro).
A maior alta foi sobre os produtos têxteis e alimentos, especialmente em frutas e verduras, itens sobre os quais os aumentos ficaram em torno de 10% em abril.
- Importar alimentos -
A Argentina é um dos maiores produtores alimentícios da região.
As importações serão viabilizadas pelo Mercado Central. Negociadas diretamente com tarifa zero, os custos de intermediação seriam anulados, com o objetivo de baixar os preços para o consumidor final.
A imprensa afirma que a taxa de juros de estímulo às compras a prazo também será reduzida, como medida para melhorar a situação dos trabalhadores, beneficiários de programas sociais, aposentados e pensionistas na aquisição de bens e serviços.
P. Rasmussen--BTZ