Maduro blinda seu gabinete antes de novos protestos da oposição na Venezuela
Nicolás Maduro renovou, nesta terça-feira (27), seu gabinete com a nomeação de Diosdado Cabello, deputado de linha-dura do chavismo, como ministro do Interior, na véspera de novos protestos da oposição, um mês após a questionada reeleição do presidente venezuelano.
O anúncio da renovação de seu gabinete ocorreu no mesmo dia em que seu adversário nas eleições de 28 de julho, o opositor Edmundo González Urrutia, não atendeu a uma segunda intimação do Ministério Público (MP) para depor no âmbito de uma investigação criminal contra ele, após denunciar fraude nas eleições presidenciais.
Cabello, de 61 anos, assume a pasta responsável pela ordem pública 22 anos depois de ocupá-la durante o governo do finado presidente Hugo Chávez (2002-2013), de quem foi companheiro de armas no fracassado golpe de Estado que liderou em 1992.
"Ele sabe muito sobre a paz, sobre a justiça e liderou os primeiros passos da revolução judicial", disse Maduro.
O presidente venezuelano ratificou sua vice-presidente, Delcy Rodríguez, que deixa o Ministério de Finanças e assume o comando do estratégico Ministério do Petróleo, e o seu ministro da Defesa, Vladimir Padrino, no cargo desde 2014.
A reeleição do governante de esquerda não foi reconhecida por Estados Unidos, União Europeia e vários países da América Latina.
A oposição liderada por María Corina Machado denuncia fraude e reivindica a vitória de González Urrutia, uma reivindicação que, no entanto, se depara com o muro institucional, acusado de servir a Maduro.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamou Maduro vencedor do pleito com 52% dos votos, mas não publicou os detalhes do resultado, que por sua vez foi validado pelo Tribunal Supremo de Justiça (TSJ).
- "Acusador político" -
González, diplomata de carreira de 74 anos, não atendeu, nesta terça-feira, pelo segundo dia consecutivo, à segunda intimação contra ele. Maduro pediu prisão para seu adversário e Machado, acusando ambos de terem sido responsáveis pelos atos de violência em protestos pós-eleitorais que deixaram 27 mortos — incluindo dois militares —, quase 200 feridos e mais de 2.400 detidos.
González apareceu em público pela última vez dois dias após as eleições, durante uma manifestação da oposição em Caracas. Desde então, ele se limita a fazer declarações via internet.
"Esta pessoa que lidera o golpe de Estado de uma caverna, escondido, Edmundo González Urrutia, muito covarde", criticou Maduro, declarando que "ele ignora o poder eleitoral, o poder judicial, comete o erro de ignorar o Ministério Público e o poder moral. Ele acredita que está acima das leis e da Constituição. Como se chama isso? Fascismo".
O MP investiga o opositor por suposta "usurpação de funções" e "falsificação de documento público". Os crimes podem resultar, em tese, em uma pena máxima de 30 anos de prisão.
A coalizão que apoiou sua candidatura, a Plataforma Unitária Democrática (PUD), denunciou um "assédio judicial contra González", que no domingo chamou o procurador-geral, Tarek William Saab, de "acusador político" por impulsionar uma "intimação sem garantias de independência e do devido processo".
O MP não se pronunciou sobre uma eventual terceira intimação.
- "Paz com justiça" -
A nomeação de Cabello antecede a convocação de Machado para os protestos desta quarta-feira, quando completa-se um mês das eleições.
"Ata mata sentença!", escreveu a opositora nas redes sociais em referência às cópias de mais de 80% das atas de votação que publicou em um site, também alvo de investigação do Ministério Público.
Cabello, que também é vice-presidente do governante Partido Socialista da Venezuela (PSUV, na sigla em espanhol), também convocou mobilizações.
"Hoje acredito que a Venezuela caminha rumo à paz, à paz com justiça", acrescentou.
Para o cientista político Walter Molina, com esta mudança no gabinete, "Maduro fecha fileiras e se entrincheira (mais) com as 'novas' designações ministeriais".
"Não é coincidência que as nomeações (...) aconteçam hoje, um dia antes da convocação para quarta-feira, 28 de julho, escreveu na rede X.
A. Madsen--BTZ