França reforça mobilização policial após três noites de distúrbios
O presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou nesta sexta-feira (30) uma série de medidas, incluindo uma maior mobilização policial, para conter os distúrbios que incendiaram as ruas da França durante três noites, mas sem decretar de fato o estado de exceção.
Prédios públicos atacados, lojas saqueadas, veículos incendiados... muitas cidades, especialmente nos subúrbios de Paris, voltaram a sofrer violentos protestos noturnos, apesar dos 40.000 policiais e gendarmes mobilizados.
No final de uma reunião de crise, Macron, que deixou uma cúpula europeia em Bruxelas nesta sexta-feira, anunciou a implantação de "meios adicionais" do Ministério do Interior para conter os distúrbios.
A violência estourou nos subúrbios de Paris na terça-feira e se espalhou pela França após a morte naquele dia de Nahel, de 17 anos, que foi baleado à queima-roupa por um policial durante um controle de trânsito em Nanterre, a oeste da capital.
Mas o saldo da última noite é alto. O governo informou a prisão de 875 pessoas (408 em Paris e seus subúrbios), o ataque a 492 prédios, a queima de 2.000 veículos e 3.880 incêndios nas ruas, além de 249 agentes feridos.
"Examinaremos todas as opções com uma prioridade em mente: o retorno da ordem", disse a primeira-ministra Élisabeth Borne antes da reunião, quando questionada se decretaria o estado de exceção conforme solicitado pela oposição de direita e extrema direita.
Sébastien Chenu, do partido de extrema direita de Marine Le Pen, voltou a solicitá-lo nesta sexta-feira devido ao nível de "violência atingido". Seu rival Éric Zemmour foi ainda mais longe e pediu na rádio Europe 1 uma "repressão feroz" contra os perpetradores da violência.
O estado de exceção permite às autoridades administrativas tomar medidas excepcionais como a proibição de viajar, mas de momento não foi decidido decretá-lo. Para o ministro da Cidade, Olivier Klein, seria admitir um "fracasso".
- "Responsabilidade dos pais" -
A estratégia de Macron pede "responsabilidade" das "mães e pais" dos participantes nos distúrbios, muitos deles menores de idade, para mantê-los em casa, já que o papel do Estado "não é ocupar seu lugar".
E exortou ainda as redes sociais a retirarem conteúdos "sensíveis" ligados a esta violência urbana e a identificarem os seus usuários, já que "existe uma forma de imitar a violência que leva alguns jovens a perder o contato com a realidade".
Ontem à noite, várias lojas do centro comercial Les Halles e da rua turística e comercial Rivoli, que dá acesso ao museu do Louvre, em Paris, foram "vandalizadas", "saqueadas" ou "incendiadas", disse um oficial superior da polícia.
Os participantes dos protestos também atacaram, pela segunda noite consecutiva, delegacias como em Pau (sudoeste), prefeituras, como em Lille (norte), ou escolas, como em Amiens (norte).
Festas escolares foram canceladas na área onde Nahel morreu e o serviço público de ônibus e trens na região de Paris foi suspenso à noite a partir das 21h até novo aviso.
- Apelo da ONU -
Os acontecimentos reacenderam o recorrente debate sobre a violência policial na França, onde em 2022 treze pessoas morreram em circunstâncias semelhantes às do jovem, e geraram preocupação internacional.
Vários países europeus, como Reino Unido, Alemanha e Noruega, alertaram seus cidadãos que viajam para a França para evitar áreas de tumultos e ter cautela.
A ONU também pediu a Paris que trate com seriedade os "profundos" problemas de "racismo e discriminação racial" em suas forças de segurança, especialmente quando parte da população as vê como racistas e violentas.
A Justiça ordenou a prisão preventiva por homicídio culposo do agente de 38 anos que atirou. Segundo o seu advogado, ele ficou "extremamente comovido" com a violência do vídeo dos acontecimentos.
"As primeiras palavras que ele pronunciou foram para pedir perdão e as últimas palavras que pronunciou foram para pedir perdão à família" da vítima, disse o advogado Laurent-Franck Liénard à BFMTV.
Mounia, a mãe da vítima, disse ao France 5 que não culpa a polícia, mas apenas o agente que tirou a vida de seu filho, já que "ele viu um rosto árabe, um menino, e quis tirar a vida dele".
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N. Nilsson--BTZ